01/11/2007

A(r)mada

eu quero a(r)mar até os dentes com a munição do presente.

Pena de peso. Peso de pena.

Quando me deseja
Teu peso voa
Com pena de ti

Ao Tom do Zé

"O Amor é um Rock e a personalidade dele é um pagode"

16/10/2007

O arquiteto do seu mundo.

Palavras, imagens, milhares de vontades e os signos - ficantes e ficados. Recursos se esmigalham no leito do tempo e da criatividade. Cito o tempo e penso nos dias que queimam a cabeça e fadigam a vida. O poeta não é profeta. O poeta não lança adivinhação, mas adivinha a frase pro desfecho de um parto. O poeta não flerta rumor, não furta amor, nem fita a vinda do filho, mas pensa mais que seu cérebro. O poeta é bandido por não banalizar. É escravo de seu senhor. É ladrão de sua obra. O poeta é fogo que candeia. É sátiro em desejos e devorador de seu cerne. O poeta é um ralé que contenta com a amargura de sua pobreza, porque sabe enriquecer suas lástimas, basta-lhe um pouco de solidão, esquadro e calculadora. 

02/10/2007

Poema de estrela.

As estrelas no céu desfilam
Num samba de chamejar
Com amores de recortes
Um instante que quer brotar
Pingo d’agua assim não molha
Brota seco um sol de atar
São sementes adormecidas
Que cintilam se a voz cantar
As estrelas no céu desfiam
Num enredo de arrebentar
Com desafetos de picotes
Um segundo que quer voltar
Riacho de lágrima que alaga
Cresce molhado sem vento sem ar
São espinhos arrependidos
Que silenciam na luz do olhar

curtopoemas

Não brigo com passado
O que vivo agora
É acerto de meus tratos
Não traio meu acerto
O que toco hoje
É amanhã com anseio

**
Cada um se descobre
Conforme seu calor

25/09/2007



Te amando e vigiando
com sentimentos no gerúndio
desconte todas finanças
um dia esta desconfiança
pode nos arrematar




Falo

falo por seu falo
vento no meu ventre
engulo o seu gole
degusto sua cena
o que vale a pena?
minha finda ou sua fenda?
nesse curtocircuito
qualquer choque 
é prenda!

rodavida


A gente cria tudo
Mas de repente

A coisa se inverte
E tudo se re-inventa

Prepotencia


Passeio os anos sem discriminação
sou homem sou mulher
sou toda idade sem ruga
como toda vírgula de colher
chego o final da história
guardo tudo na memória
sou dona da verdade
[quem contradizer
diga o que é verdade]
não tenho cheiro de neném
não exalo asco a ninguém
sou aroma do campo - alecrim e batalha -
arremato sentença nas linhas de Safo
faço o mundo em menos 7 dias
desfaço com minha vida
Arreganho as pernas do papa vivo
subo na pedra, na pica, no pico
proclamo:
Sou vulcão do continente
sem jogo à nenhum persistente
furto qualquer língua
na linha dos anjos, fariseus e Dionísios
convenço o hímen do mundo
ejaculo meu magma de sêmen no fundo
engravido toda nação
deixo nascer a boa invenção
falo baixo antes de viver
grito antes de morrer:


QUEM É DEUS SENÃO EU?

11/09/2007

poema em choro


Nada além de palavras

só palavras
tantos grifos
na boca derramam gritos
palavras que nos olhos são sais

no coração são tantos aispra lavar a dor das palavras
Palavras, larvas frias
Pra lavar a dor
Palavras, Palavras
Letras em lágrimas
São apenas palavras

23/03/2007

UMA ENTREVISTA DE CHAPLIN

Neste texto foi mantida a grafia original da época

CURIOSAS DECLARAÇÕES DO GRANDE ARTISTA - UM LIVRO QUE JAMAIS SERÁ DADO A MAC CARTHY

O jornalista italiano Alfredo Paniucci, de "Epoca", obteve em fins do mês passado uma entrevista de Chaplin - em sua vila de Corsier-Vevey, Genebra - que pode ser considerada sensacional. Correra uma noticia, na França e na Italia, que Chaplin, ao comemorar seu 65º aniversario, no dia 16 ultimo, receberia os representantes da imprensa daqueles dois paises para uma entrevista coletiva. Na realidade, tratava-se de mero boato. O grande ator nada havia marcado e foram numerosos os jornalistas que fizeram inutilmente a viagem, voltando apenas com algumas fotos da residencia de Chaplin e no maximo de um ou dois de seus filhos. Paniucci, entretanto, foi mais persistente. Insistiu, junto ao mordomo, para ser recebido. Este, após tenaz resistencia, comprometeu-se a falar com o criador de "Luzes da Ribalta": se ele estivesse de bom humor, no dia seguinte, era provavel que concederia a entrevista. E o reporter italiano voltou, para conversar com Chaplin, dele obtendo declarações que, se não são novas, não deixam de ser curiosas.Depois de descrever o aspecto da vila, as particularidades que pôde notar, na sala de espera, Paniucci, que é o primeiro jornalista a ser recebido por Chaplin na sua vila suiça, diz que ele lhe parece, em trajes esportivos, com um aspecto extraordinariamente juvenil. Seus olhos azuis, sobretudo, são sorridentes como os de um menino. Conduz o reporter a uma pequena colina nos fundos de sua vila, depois de recusar o chapéu, que lhe oferece sua esposa: "Não sou tão velho assim para necessitar de chapéu", diz. E sai, quase correndo, acompanhado pelo reporter. Na colina, faz um gesto amplo com os braços, parecendo querer alçar voo e diz: "Deste ponto, domino o lago."Ambos regressam e Chaplin vai mostrar o quem possui na sua vila. Aponta para um espelho, "puro estilo Chippendale" e sobre uma escrivaninha o reporter observa apontamentos que acredita serem de um "script". São folhas divididas ao meio, escritas do lado direito, ao passo que do esquerdo algumas notas apenas. Chaplin fala, mostrando suas famosas porcelanas, mas a atenção do jornalista é despertada por uns quadros abstracionistas.Chaplin pergunta: "Gosta?" E acrescenta : "Para mim são profundamente antipaticos. Tenho-os na parede exclusivamente porque, vendo-os, saio desta sala, de que não gosto." Mal termina a frase e abre uma porta que dá para o estudio, decorado de moveis austeros e escuros. As quatro paredes estão recobertas de livros. Poucos discos sobre a vitrola, entre os quais a "Nona" dirigida por Toscanini. Chaplin aponta para os livros, denotando orgulho. São todos luxuosamente encadernados. De uma estante tira uma edição de Shakespeare, 1700, impressa em Londres. O jornalista vê, nas estantes, obras de Thakerav, de Platão, Maupassant, Plutarco, Balzac, Dickens, Poe e Thomas Payne. Num angulo, descobre "Mein Kampf", de Hitler. Chaplin exclama, sorrindo: "Não sou nazista, não. Li-o antes de realizar "O Grande Ditador". Mac Carthy gostaria de possuir este livro. Mas não o darei, jamais." E ante uma pergunta do jornalista, diz, sempre sorrindo, os olhos azuis exprimindo ironia: "A maior parte de meus livros são sobre psicologia. Gosto muito de estudar o proximo; gosto das ciencias ocultas. Ah! Se eu pudesse transformar-me em feiticeiro!"Ambos voltam para a outra sala, já acompanhados de Oona. Na porta o jornalista quer dar passagem primeiro a Chaplin, mas este abre caminho e diz: "É inutil você querer ver minhas costas; não sou Marilyn Monroe." E ri, gostosamente. Deixa-se cair numa poltrona e pergunta: "Nunca esteve em Hollywood, na California? Não? Pois não vá nunca para lá. Não vale a pena". Ergue-se, põe a mão direita sobre o peito e levanta a esquerda, para recitar: "Moi, moi seul et c'est assez." Inclina-se e acrescenta: "De "Medéia", de Corneille". Oana sorri e Chaplin, ao observá-la, continua: "Minha mulher quer voltar para a Italia. Tenho um desejo feroz de rever Florença e Veneza. Florença é uma cidade estupenda. Mas sabe onde eu gostaria de viver? Nos tropicos, em Singapura, em Java, em Bali. Pena que haja muitas moscas." E, como se estivesse dando combate a uma mosca, faz um "gag" que o jornalista considera irresistivel. Mas aproveita o instanste para fazer uma pergunta sobre o proximo filme de Chaplin. Ele agora parece irritar-se. Diz apenas: "Até agora não tenho nada de concreto. Posso dizer que não será uma tragedia como "Mr. Verdou" e "Luzes da Ribalta", mas uma comedia moderna: um filme que focalizará os diferentes sistemas de vida dos americanos e dos europeus." E ante uma nova pergunta de Paniucci, o genio diz: "Os americanos não me querem bem. Durante 30 anos me admiraram e depois passaram a odiar-me. Feriram-me profundamente."A esta altura, diz o reporter, alguns fotografos que permaneceram na cidade já estavam entrando na vila de Chaplin. Eles entram e batem chapas, perturbam a entrevista. O mestre ordena uisque para todos, e grandes doses são servidas. E Chaplin aproveita para retirar-se da sala.
Publicado na Folha da Manhã
Data de publicação
05.mai.1954